O apartamento está deserto.
A luz da lua inunda cada divisão criando sombras, ilusões.
Ela acende um cigarro e senta-se no chão do quarto vazio mas a pulsar de recordações.
O tempo insiste em fugir mas ela bloqueou-o naquele dia. . . Já não importa o que diz o calendário, já perdeu a conta às noites em que a lua banhou o quarto vazio com a sua luz prateada.
No quarto agora vazio onde outrora se ouviam gargalhadas, hoje apenas se ouve o som desconcertante do eco dos passos, a respiração suave e constante, a força da solidão.
Enquanto se deixa levar pelo prazer fútil do seu cigarro ela revê, mentalmente, tudo o que a levou até aquele ponto, onde falhou e porque desistiu?
Perdida nos pensamentos não sente os passos que lenta e vagarosamente se aproximam do quarto vazio.
Perdida no quarto vazio ela não o sente chegar.
Ele aproximou-se subtilmente, ajoelhou-se, abraçou-a e delicadamente afastou as lágrimas que lhe corriam pela cara.
- Não estás sozinha...
Encostou a cabeça no peito dele e deixou-se embalar enquanto ele lhe sussurrava a música, aquela música.
Adormeceu a olhar a lua.
Agora não sente a força da solidão.
Será que amanhã a lua volta?